TORPEDO
Xerox, tigre, terror.
Reproduzo o que não consigo exprimir.
O que é fúria e sangue urgente
debaixo da última pele.
Não há mais saídas de emergência
nem escadas de incêndio.
Só esta taquigrafia
e o lago de olhares parados
das salas de espera.
Disco rápido: igitur, indigitur
e desligo a árvore final da paisagem
com a água
quase no ponto de virar mármore.
A loucura pede ladrilhos brancos
nunc et semper
e um fênix qualquer
anônimo, fixo
em néon/néant — e náusea.
TORPEDO
Xerox, tiger, terror.
I reprint what I cannot explain.
What is fury and urgent blood
under the last skin.
There are no more emergency exits
or fire escapes.
Just this scribbling
and a lake of stagnant eyes
in waiting rooms.
Fast record: igitur, indigitur
I switch off the landscape’s final tree
with water
almost to the point in which it turns into marble.
Madness asks for white tiles
nunc et semper
and some anonymous
phoenix, fixed
in néon/néant — and nausea.
Volto à caça
mas tenho um branco
diante de tanto espaço
aberto, sem casa.
Viver com olhos livres
africanos
e mãos futuristas
pois só quero os souvenirs
que não são imagens.
Adeus, madeleine déjà vue
eu atiro, com balas perdidas
na miragem que ainda não vejo
e o que cai, é porque fracassa.
I go back to hunting
but blank out
against such open
spaces, homeless.
To live with free eyes
African
and futuristic hands
since I only want the souvenirs
that are not images.
Goodbye, madeleine déjà vue
I shoot, with stray bullets
into a mirage I cannot see yet
and whatever falls, is because it fails.
Cavalos opostos
contidos no corpo
disparam
para polos distantes
e idênticos.
Iguais
por pertencerem a extremos
destinos
onde se rasga a velocidade que se alimenta
da mesma ração
de espelho e reflexo.
Contrários, mas repetidos
símiles e simétricos
na contramão de si próprios
não se cruzam
desgarram-se, irremediáveis.
Opposite horses
within a body
take off
to distant and identical
poles.
Equal
for belonging to far away
destinies
where they gash velocity while feeding
from the same ration
of mirror and reflection.
Opposite, but repeated
similar and symmetrical
running against their own selves
they don’t meet
they depart, helplessly.
Onde minha mãe acaba
comigo, e eu começo, onde
meu pai, no quarto escuro
se move sobre ela, murmura
e se altera, onde eu, de novo
despido, não esbarro, passo
no corredor estreito, entre
os dois raspando, onde ela para
e ele recomeça, onde eu cresço
onde ela espera o arremesso dele
meu, onde eu, onde ela, onde ele
onde nós, apertados, apartados, curtos
nos cruzamos, com a luz apagada?
Where my mother ends
within me, and I begin, where
my father, in a dark room
moves over her, whispers
and shifts, where I, naked
again, don’t stumble, walk through
the narrow corridor, among
the two grazing, where she stops
and he starts again, where I grow
where she waits for his hurling
mine, where I, where she, where he
where we, crumpled, divided, reduced
meet, with the lights off.
Armando Freitas Filho
Translated by Flávia Rocha
Armando Freitas Filho was born in Rio de Janeiro, Brazil in 1940. Throughout his career, he has experimented with different poetic practices that range from concrete poetry to poesia práxis to the marginal literary circles of the late 1970s mimeógrafo generationArmando has twice been awarded the Jabuti Prize, one of the greatest literary honours in Brazil; firstly in 1986, for 3x4, and later in 2010, for Lar. His first work, Palavra, was published in 1963. His complete works up to 2003 are gathered in Máquina de Escrever (2003). Dever was published in 2013, a year that marked a half-a-century of his work as a poet. In 2016 he published a collection of poems entitled, Rol.