L’air du matin
Tu te loves contre moi
L’air du matin
se pose en brouillard lumineux
sur nos pensée naissantes
“Je t’aime”, me dis tu
Un oiseau passe et te répond:
“Elle aussi!”
Car muete
sonnée encore
je sors à peine de ma nuit
Il faut bien se le dire
ce monde-lá ma fait mal
O ar da manhã
Tu me envolves com amor
Ar da manhã
pousas em nevoeiro luminoso
sobre nossos pensamentos nascentes
“Eu te amo”, tu me dizes
Um pássaro passa e te responde:
“Ela também!”
Então muda
com sono ainda
saio a custo de minha noite
E é bom que se diga
este mundo aí me fez mal
La jupe de ma mère
Sous sa jupe légère
tant chose a devenir
um rêve
tout um manège
de saisons a saisir
par um enfant fébrile
A saia de minha mãe
Sob sua saia leve
tantas coisas por vir
um sonho
todo um carrossel
de estações por extasiar
uma criança febril
Des mots noirs
Des mots noirs
à faire chavirer le nuage
à chérir son ombre
à saccager la plaine
à humer les sourires secrets
à regarder de loin la glu de l’existence
à remonter la glissade de l’espoir
à caracoler avec un chevalier
à faire saigner sa blessure
comme le plus tendre des nouveau-nés
Palavras negras
Palavras negras
a revirar a nuvem
a acalentar sua sombra
a saquear a planície
a cheirar os sorrisos secretos
a olhar de longe para a cola da existência
a subir o escorregadio da esperança
a se empinar com um cavaleiro
a sangrar sua ferida
como o mais terno recém-nascido
Fleur d’orgueil
La neige
Partout la neige
À toi
à l’autre bout de route
où se inscruste l’enfance
À toi, petite
sauf ton âme
justement vaste
pour ne plus conttenir
les allées et venues fracassantes
d’une reine dépourvue d’amour
Il te reste cette fumée
dechirée par tes pleurs
qui s’abattent comme la lave
sur les cicatrices du jour
Flor do orgulho
A neve
Por toda parte a neve
A ti
na outra ponta da estrada
onde se incrusta a infância
A ti, pequena
salvo tua alma
vasta, simplesmente
por não mais conter
as idas e vindas fracassadas
de uma rainha desprovida de amor
Resta esta fumaça
desfeita por tuas lágrimas
que caem como lava
sobre as cicatrizes do dia
Eté
Ici dans la solitude
au milieu des miens
ma pensée ne tend que vers toi
mon corps te cherche
comme un animal
qui déambule
alourdi de ton souvenir
Que faire de ces champs jaunis?
De ces sillons tracés de force dans l’argile
où chaque brin d’herbe
n’en finit plus de pousser?
Verão
Aqui na solidão
no meio dos meus
pensamentos que só tendem para ti
meu corpo te procura
como um animal
que deambula
pesado de tua memória
O que fazer destes campos amarelados?
Destes sulcos traçados à força no barro
onde cada lâmina de grama
não cessa de impulsionar
Les mots
Et si le silence
était mon langage...
Avide de savoir
tu récoltes mes cils
la tempête qui me traverse
tandis que je dessine ton nom
à la craie
sur des miroirs
Mais si je penche la tête
comprendras-tu ce geste-nuage
perdu dans le bleu du jour?
As palavras
E se era o silêncio
a minha linguagem...
Ávido de saber
tu colhes meus cílios
a tempestade que me atravessa
enquanto desenho teu nome
a giz
sobre os espelhos
Mas se pendo a cabeça
compreenderás este gesto-nuvem
perdido no azul do dia?
Isabelle Lagny
Tradução de Antônio Moura
Isabelle Lagny é poeta, escritora e fotógrafa, nascida em 1961, em Paris, cidade em que vive até hoje exerce a profissão de medicina do trabalho. Escreve poemas e novelas desde 1996, e paralelamente ao seu trabalho autora, realiza um trabalho de tradução de longa data, do árabe para o francês, com o poeta de origem iraquiana Salah Al Handani. Como fotógrafa expõe desde 2013. Publicou os livros de poesia Le sillon des jour; Nuit inversée; Poèmes D’Alya e Contrejour amoureux.
Os poemas aqui apresentados são extraídos do livro Este gesto-nuvem, com tradução organização de Antônio Moura, Edições do Escriba, 2019.
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