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Writer's pictureVirna Teixeira

Our death | Nossa morte
























Our death 33/ on the hatred of the sun


Every evening its like the sun smashes into the earth. Its been doing it now for a few weeks. The sky splits into two and all the details of our lives - desires and facts and seizures - flare up from somewhere behind the horizon and produce embittered maps, random shreds of detritus that seem almost to be meaningful. All human data is scrawled across the sky. There is the date of your birth, for example, that arbitrary pivot. There, next to it, perhaps, a set of fairly random memories. Somewhere further off is the tenderness you feel at the thought of a loved one’s beating heart. But then unfortunately that tenderness gets entwined with the screams of the victims of the Peterloo Massacre, gets entwined with the hideous noises something like George W. Bush would make when they look into the mirror at midnight. The darkness of that mirror, which is not quite equal to the darkness and silence inside the opened mouth of someone being burnt alive. So many things to hear and see etc., in the dreams of the dying sun. Fortunately, all of this passes after half an hour or so, the sky closes and the calm night begins, but still it leaves us feeling raw. The calendar, that particularly esoteric version of music, was invented as a means of warding off the fear associated with that rawness. But us, we embrace it. What else are we supposed to do, as we sit here waiting for the end of everything. Re-invent prayer? Behave yourself. As the sun nears the rim of the planet we stare directly into it. We are unsmiling and terrified. We can feel it etching itself into our retina. The shapes it makes are repellant. Here is the burning hospital. Here is the salivating fascist. Here is the eternal ringing of the imaginary city walls. When the sun goes down we can still hear that ringing. It is our voices. A huge cacophonous reckoning before the night silences us with its fists.


Nossa morte 33/ sobre o ódio ao sol


Toda noite é como se o sol esmagasse na terra. Ele faz isso agora há algumas semanas. O céu se divide em dois e todos os detalhes de nossas vidas - desejos e fatos e convulsões - surgem de algum lugar atrás do horizonte e produzem mapas amargurados, pedaços aleatórios de detritos que quase parecem ser significativos. Todos os dados humanos são rabiscados no céu. Ali é a data do seu aniversário, por exemplo, aquele pivô arbitrário. Ali, próximo a ele, talvez, uma série de memórias igualmente aleatórias. Em algum lugar mais além é a ternura que você sente ao pensar no batimento cardíaco da pessoa amada. Mas então infelizmente aquela ternura torna-se entrelaçada com os gritos das vítimas do massacre de Peterloo, torna-se entrelaçada com os barulhos hediondos como algo que George W. Bush faria quando olham no espelho à meia-noite. A escuridão daquele espelho, que não é bastante igual à escuridão e ao silêncio dentro da boca aberta de alguém queimado vivo. Tantas coisas para ouvir e ver etc, nos sonhos do sol que morre. Felizmente, tudo isso passa após meia hora ou algo assim, o céu se fecha e a calma noite começa, mas ainda nos deixa sentindo em carne viva. O calendário, aquela versão particularmente esotérica da música, foi inventado como um modo de evitar o medo associado com aquela crueza. Mas nós, nós acolhemos. O que mais devemos fazer, enquanto sentamos aqui esperando pelo fim de tudo. Re-inventar a reza? Comporte-se. Enquanto o sol aproxima-se da beira do planeta nós o encaramos diretamente. Estamos impassíveis e aterrorizados. Podemos senti-lo se estampando em nossa retina. E as formas que ele faz são repelentes. Aqui está o hospital em chamas. Aqui está o fascista salivante. Aqui está o eterno toque das paredes da cidade imaginária. Quando o sol desce podemos ainda ouvir aquele toque. São as nossas vozes. Um imenso cálculo cacofônico antes da noite nos silencia com seus punhos.


Our Death 34/ after Baudelaire


Wine is a dull disk that encircles the law. It will check your passport, will make sure that your sense of rhythm never exceeds the accepted patriotic patterns. Opiates, meanwhile, will run subtle holes through the length of the calendar. The city’s windows, your systems of memory, both of them become an alien landscape, an inaudible language that speaks at times of human love, which apparently is all we are ever supposed to desire, a golden net about as plausible as the sounds made by cash, that fictitious mirror, that city of no language where every night you lock the door and scatter coins across the floor until they reflect the farcical stars: “oh you tedious razor'd meat, you pompous junky filth. When will the day come when you can die beneath some weird lovers’ fists”.


Nossa morte 34/ após Baudelaire


Vinho é um disco opaco que circunda a lei. Ele verificará seu passaporte, garantirá que seu senso de ritmo não exceda nunca os padrões patrióticos aceitos. Opiáceos, enquanto isso, vão abrir buracos sutis no comprimento do calendário. As janelas da cidade, seus sistemas de memória, ambos tornam-se uma paisagem alienígena, uma linguagem inaudível que fala às vezes de amor humano, o qual aparentemente é tudo que devemos desejar, uma rede dourada quase tão plausível como os sons emitidos pelo dinheiro, aquele espelho fictício, aquela cidade sem linguagem onde toda noite você tranca a porta e espalha moedas sobre o chão até que elas reflitam as estrelas ridículas “oh sua tediosa carne de barbear, sua sujeira viciada e pomposa. Quando chegará o dia em que você poderá morrer sob os punhos de alguns amantes estranhos”.


Nossa Morte 35 / Abjeto 2 (após Baudelaire)


Great love, that will crush the human world, I wish we could do something to help each other. But today we are separated by so many tedious enemies. They smile at us all day long and ask us about our fever. What is there to say?  That “fever”,  in the way they pronounce it, isn’t much more than a weird reflection of their smile, which in itself is a symbol of their sense of rightness within the so-called world. But that we feel that the five characters that make up the word “fever” - or indeed the word “smile” -  are actually indicative of the illusory nature of the ownership of their senses, or of their history, which from another angle simply means the deleted histories of the cities of the sun and the devastation that continues to be inflicted there. Great love, if only we could whisper to each other the language needed to describe that devastation, so we might fill their mouths with the thorns of our great loss. It seems that everything we once knew has been stolen from us, and now idiots are reciting it, idiots who don’t know how to close their mouths, and the sounds those mouths make are razors scratching words into our chests. Great love, we cannot read the language written there. I wish I could say to you just one soothing word. But today I am the filthiest of brides. Only the stains around my mouth make me less repellant than those whom I most despise.


Nossa Morte 35 / Abjeto 2 (após Baudelaire)


Grande amor, que vai esmagar o mundo humano, eu gostaria que pudéssemos fazer algo para ajudar ao outro. Mas hoje estamos separados por tantos inimigos tediosos. Eles sorriem para nós o dia inteiro e nos perguntam sobre a febre. O que há para dizer? Aquela “febre”, na maneira que eles a pronunciam, não é muito mais que uma reflexão estranha de nosso tempo, o que em si é um símbolo de seu senso de retidão com o assim chamado mundo. Mas sentimos que os cinco caracteres que fazem a palavra “febre” - ou então a palavra “sorri” -  são na verdade indicativos da natureza ilusória da propriedade dos seus sentidos, ou da sua história, os quais por outro ângulo simplesmente significam as histórias deletadas das cidades do sol e a devastação que continua a ser infligida aqui. Grande amor, se apenas nos pudéssemos sussurrar um ao outro a linguagem necessária para descrever aquela devastação, para que pudéssemos encher suas bocas com os espinhos de nossa grande perda. Parece que tudo que soubemos um dia foi roubado de nós, e agora os idiotas estão recitando, idiotas que não sabem como fechar suas bocas, e os sons que aquelas bocas fazem são lâminas arranhando palavras em nossos peitos. Grande amor, não podemos ler a linguagem escrita ali. Eu gostaria de lhe dizer apenas uma palavra calmante. Mas hoje eu sou a mais devassa das noivas. Apenas as manchas em volta da minha boca me fazem menos repelente que aqueles que eu mais desprezo.


Sean Bonney


Tradução: Virna Teixeira


Sean Noel Bonney (May 21, 1969 – November 13, 2019) was an English poet born in Brighton and

brought up in the north of England. He lived in London and, from 2015 up until the time of his death, in Berlin.He was married to the poet Frances Kruk.His publications include Blade Pitch Control Unit (2005), Baudelaire in English (2008), Document (2009), The Commons (2011), Happiness: Poems After Rimbaud(2011), Letters Against the Firmament (2015), and Our Death (2019). His work also appeared widely in print and online magazines associated with small press poetry and political activism, both in the UK and internationally (his work was frequently translated into other languages). The American critic and poet Keith Tuma declared that "he deserves to be the most popular poet in Britain",[3] and Bonney's work was widely-respected amongst groups of poets, activists and artists in the UK, America, Germany, Greece and elsewhere. (Font: web)


Sean Noel Bonney (May 21, 1969 – November 13, 2019) foi um poeta inglês nascido em Brighton

e criado no norte da Inglaterra. Ele viveu em Londres, e de 2015 até sua morte, em Berlim. Ele foi casado com a poeta Frances Kruk. Suas publicações incluem Blade Pitch Control Unit (2005), Baudelaire in English (2008), Document (2009), The Commons (2011), Happiness: Poems After Rimbaud(2011), Letters Against the Firmament (2015), e Our Death (2019). Seu trabalho também apareceu amplamente em revistas impressas e eletrônicas associadas com editoras independentes e ativismo político, tanto no Reino Unido como no exterior (seu trabalho foi frequentemente traduzido para outras línguas). O crítico e poeta norte-americano Keith Tuma declarou que "ele merece ser o poeta mais popular na Grã-Bretanha, e o trabalho de Bonney é muito respeitado entre grupos de poetas, artistas e ativistas no Reino Unido, América do Norte, Grécia, e em toda parte. (Fonte: web)






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