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MOTHERS

I

 

They met up in an Airbnb flat. He rented it for a night. On the table a bottle of whiskey and few lines of coke, were waiting for her. This is good-she thought.

           

She feels strong repulsion towards naked bodies.

 

Towards hers as well.

 

Drugs, drinks do help-

Mastering  repulsion.

 

First things first.

First hate you learn  from your mother.

 

And her mother hated soo good, so many things-

Men-she said-too big presence-occupying too much space-their legs wide spread across the chairs-their smells-their noises..

 

She hated bodily functions-nobody should know you have those!

She hated neighbours and flies and hairs and pigeons and her father and sometimes her mother and she hated strongly the president and the government and any kind of system

She was constantly talking about Sparta:

“In Sparta they would throw me off the cliff long time ago!

Soft is the tit of our civilisation!

Nurturing idiots

But at the end, you know-

What we deserve, that will decompose us!”

And she hated the winter, sometimes summer

She hated people who talk too much, especially in certain languages, and people who were walking too slow, she hated untidiness, she hated people who do not hate.

She was snorting cocaine from the table, thinking about her mother and about Sparta, and how in her family the custom was, when a girl gets her first period she is expected to wash her underwear by herself, even though there were perfectly operating washing machines. You inform your mother that you are bleeding, and she tells you: Right, from now on, you are washing your pants by yourself!

And there you are- in a sterile bathroom exile-

There you are bent over the bathtub, trying to wash away your bloody shame.  

He approached her from behind and started to lift her skirt and pull down her tights.

 

 

MÃES

 

I

 

Eles se encontraram num Airbnb. Ele alugou o apartamento por uma noite. Sobre a mesa uma garrafa de uísque e umas carreiras de coca esperando por ela. Isso é bom – ela pensou.

 

Ela sente a repulsa errada por corpos nus.

 

Pelo corpo dela também.

 

Drogas, drinques ajudam-

A dominar uma repulsa.

 

O primeiro ódio você aprende da sua mãe.

 

E a mãe dela odiava tão bem, tantas coisas-

Homens-ela disse-uma presença imensa-ocupando espaço demais-as pernas deles espalhadas pelas cadeiras-os cheiros deles-os narizes deles…

 

Ela odiava funções corporais-ninguém deve saber daquilo!

 

Ela odiava vizinhos e moscas e cabelos e pombos e o pai dela e às vezes a mãe dela e ela odiava com força o presidente e o governo e qualquer tipo de sistema

 

Ela estava constantamente falando sobre Esparta:

“Em Esparta eles teriam me jogado do penhasco há muito tempo!

 

Suave é o mamilo da nossa civilização!

 

Idiotas nutritivos

 

Mas no final, você sabe-

 

O que merecemos, aquilo vai nos decompor!”

 

E ela odiava o inverno, às vezes o verão

Ela odiava gente que falava demais, especialmente em algumas línguas, e pessoas que andavam devagar demais, ela odiava desarrumação, ela odiava gente que não odiava.

 

Ela estava cheirando cocaína sobre a mesa, pensando na mãe dela e em Esparta, e no hábito da sua família, de quando uma garota menstrua pela primeira vez, espera-se que ela lave sua calcinha, mesmo com lavadoras perfeitamente operantes. Você informa a sua mãe que você está sangrando, e ela conta para você: Certo, de agora em diante, você mesma vai lavar suas calcinhas!

E lá está você- no exílio de um banheiro estéril-

Ali você está inclinada sobre a banheira, tentando lavar sua vergonha sangrenta

 

Ele se aproximou por trás e começou a levantar a saia dela e a baixar suas meias

 

Ana Seferovic

 

Tradução de Virna Teixeira

(Foto: Ana Seferovic)

Ana Seferović, Belgrade born writer and textual artist, has written three collections of poetry: Duboki kontinent (Deep Continent – Matica Srpska, 2000), Beskrajna zabava (Endless Entertainment – Narodna knjiga, 2004) and Zvezda od prah-šećera (A Star Made of Icing Sugar – Association of Writers and Translators Pančevo, 2012). Her poetry has been translated and published in many languages. In 2015 she published the collaborative poetry book The City (Auropolis) with English poet Alice Maddicott, and The Travelogue of The Car Boot Museum (Somerset Art Works). She lives in London and is also the co-author of two published and staged plays. The short excerpt published here is from a genre neutral (between poetry and prose) of her experimental novel Mothers, to be published this year

 

Ana Seferović, escritora e artista textual, publicou três livros de poesia: Duboki kontinent (Continente Profundo – Matica Srpska, 2000), Beskrajna zabava (Entretenimento Eterno – Narodna knjiga, 2004) e Zvezda od prah-šećera (Uma Estrela Feita de Acúçar Confeitado – Association of Writers and Translators Pančevo, 2012). Sua poesia está traduzida e foi publicada em várias línguas. Em 2015 ela publicou o livro The City (Auropolis) com a poeta inglesa Alice Maddicott, e The Travelogue of The Car Boot Museum (Somerset Art Works). Ela vive em Londres, e é co-autora de duas peças de teatro. O trecho publicado aqui é de gênero neutro (entre poesia e prosa) do seu romance experimental  Mothers, que será publicado este ano.

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