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esta noite sonhei com Buck Angel

e todas as marcas frutos pedaços

avisos de comodificação do sexo

do velho hotel ou da sua abertura

ao mundo e de tudo

comodificado eu mesmo

em todos os pijamas

sempre confortável

fodendo ecrãs

crio destinos

contrários ao corpo

de éter e username:

esta noite sonhei mas não era Buck

era um monstro era verdade

um passado amigo

comigo entrando na sua

casa de pelúcia rosa escuro

antigo nome de canção foleira

músculos rijos e flores de tinta

dobrado todo em ilha

como eu adoro Buck

seus montes contraditórios

seu pêlo de homem-homem

seu pêlo de mulher

pixel após pixel

fim após fim

como eu detesto

as malhas os meandros

os sítios de posse ou aqueles filmes

as conversas fechadas de género

como certezas

que esta noite Buck

não trouxe no apelido:

esta noite não sonhei ou não

me lembro sequer de ter dormido

de quem me tocou a pensar

em coisas duplas

como duas cores na minha

cabeça que não fazem cidade

política centro paisagem

porque tudo será sempre

particular e complexo sempre

e só realidade interior

last night I dreamt with Buck Angel

and all the marks fruits pieces

signs of sexual commodification

of the old hotel or its opening

to the world and all

commodified myself

in every pyjamas

ever cozy

screwing screens

I create fates

opposed to the body

made of ether and username:

last night I dreamt but it wasn’t Buck

it was a monster it’s true

like a friendly past

when entering in his

dark pink plush’s house

corny song worn name

hard muscles and inked flowers

wrapped up as an island

how I love Buck

his unfathomable hills

his man-man’s hair

his woman’s hair

pixel after pixel

end after end

how I hate

nets and mazes

owned places or those movies

closed gender conversations

as certitudes

that last night Buck

hasn’t carried in his nickname:

last night I didn’t dream or I don’t

remember of sleeping at all

or who made me think

double ideas

like two different colours in my

head that won’t make a city

politics centre landscape

because everything will always be

singular and complex always

and just inner reality

​

Ricardo Tiago Moura

​

Tradução e colagem do autor 

​

Ricardo Tiago Moura, n. Junho, 1978. Publicou os livros Um gato para dois (Hariemuj, 2013), Epístolas a D. (não edições, 2013), 1 gato para 2 (não edições, 2015) e pequena indústria (Tea for One, 2016). Publicou no Brasil o livro Espaço aéreo (Arqueria, 2014), traduzido em 2015 para Espanhol por Alfredo Ruiz com edição no Peru pela Amotape Libros. O livro saiu em edição bilíngue em 2017 pela Carnaval Press (Londres), com tradução de Ricardo Marques. Dedica-se também à colagem. Vive em Køge, Dinamarca

 

Ricardo Tiago Moura was born in Portugal in 1978. He had four books of poetry published in Portugal: Um gato para dois (Hariemuj, 2013), Epístolas a D. (não edições, 2013), 1 gato para 2 (não edições, 2015) and pequena indústria (Tea for One, 2016). Espaço Aéreo was originally published in Brazil in 2014 (Arqueria Editorial). It was translated to Spanish by Alfredo Ruiz, and published in Lima by Amotape Libros. Espaço Aéreo was translated to English by Ricardo Marques and published as Airspace by Carnaval Press in London (2017). He lives in Køge, Dinamarca, and he is also a collage artist.

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